20 de julho de 2019: celebração dos 50 anos da chegada do 1. ° homem à Lua!
O que motivou e quais foram os processos para essa conquista? O coordenador do curso de Engenharia Mecânica da Mauá, professor Joseph Youssif Saab Junior, elaborou um artigo interessantíssimo sobre o feito! Clique aqui para ler na íntegra!
É importante tentar entender o desafio não apenas pelo seu desafio técnico, mas também dos pontos de vista social e humano.
No prisma geopolítico, o mundo estava em plena “Guerra Fria” entre as duas únicas superpotências existentes naquela ocasião: os Estados Unidos da América e a União das Repúblicas Socialistas Soviéticas (URSS). Vendo a URSS alcançar pelo menos quatro sucessos seguidos na corrida espacial, ou seja, a colocação em órbita do primeiro satélite artificial, o Sputnik, em 1957; a colocação do primeiro ser vivo em órbita, a cadela Laika, um mês após o Sputnik; o pouso da primeira sonda robotizada na Lua, Luna 2, em 1959; e também o primeiro homem a completar uma órbita em torno da Terra, Yuri Gagarin, em 1961, o presidente John Kennedy buscou entender o que poderia ser feito para nivelar a corrida com os Soviéticos, procurando manter a liderança mundial nas áreas de Ciência e Tecnologia. Consultado, Von Braun, o cientista alemão que foi levado aos EUA dentro do contexto da operação “Paperclip” ao final da Segunda Guerra Mundial e que era chefe do projeto espacial nos EUA, respondeu a Kennedy dizendo que a única forma de competir e eventualmente bater os Soviéticos seria a de fixar uma meta tão audaciosa que a tecnologia desenvolvida pelos Soviéticos até aquele momento seria de pouca ajuda, tornando, portanto, a competição mais equilibrada. Como seria possível fazer um astronauta orbitar a Lua, sem pousar, usando uma extensão da tecnologia que os Soviéticos já possuíam naquele momento, essa meta foi descartada em favor de levar uma equipe de homens até a superfície da Lua e trazê-los de volta em segurança até o final da década de 60, conforme proposto durante o famoso discurso de Kennedy em Houston, no Texas, em 1961. Conforme explicou Von Braun, esse feito exigiria um foguete 10 vezes mais poderoso do que aquele desenvolvido pelos Soviéticos até o momento (Vostok I), nivelando a competição.
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No caso do Programa Apollo, a estratégia vencedora foi aquela que permitiria sair com apenas um foguete pesado da Terra (Saturno V), alijar ainda na atmosfera os enormes tanques de combustível necessários para alcançar a órbita (estágios S I e S II), e acelerar até a velocidade necessária para escapar do campo gravitação da Terra com a ajuda do estágio seguinte (denominado S IV e não S III), ejetando-o também, a seguir. Após uma manobra no espaço para trocar a posição relativa dos módulos remanescentes, o conjunto que seguiria para a Lua teria apenas uma pequena fração da massa inicial, sendo composto do Módulo Lunar (LEM), Módulo de Serviço (SM) e Módulo de Comando (CM). Novamente, ao chegar à órbita lunar, o Módulo de Serviço e o de comando (conhecidos como CSM, enquanto unidos) se separariam e ficariam sob o comando de um astronauta (Michael Collins, do caso da Apollo 11), enquanto o LEM desceria à superfície da Lua com os dois outros astronautas (Neil Armstrong e Edwin Aldrin, no caso da Apollo 11). Ao terminar a missão desenhada para a superfície, os dois astronautas seriam colocados em órbita da Lua pelo foguete do LEM (pequeno, já que o campo gravitacional daquele Satélite tem apenas 17% da intensidade do campo Terrestre) e se juntariam novamente ao CSM, para descarregar os astronautas e amostras recolhidas. Em seguida, o LEM seria ejetado na órbita da Lua, reduzindo mais uma vez a massa do conjunto para que o SM pudesse fazer a queima final de combustível, impulsionando apenas o conjunto CSM de volta à Terra. Ao chegar perto da Terra, seria o momento de ejetar o SM e a superfície seria alcançada apenas pelo CM, em uma queda devidamente protegida do calor da reentrada por um escudo térmico de material especial, o AVCOAT, que era consumido no processo de troca térmica conhecido por ablação. Após reduzir bastante a velocidade do CM por atrito, sua velocidade seria novamente reduzida por três grandes paraquedas, que permitiriam o toque seguro, em geral no mar (mas também estava testado para cair sobre terreno firme).
Do ponto de vista econômico, o esforço empenhou mais recursos que a construção do canal do Panamá ou o Projeto Manhattan, que concebeu e projetou a primeira bomba atômica, consumindo mais de 4% do orçamento anual dos EUA ao longo de toda a década de 60. No entanto, talvez uma das maiores conquistas desse projeto, que foi o maior projeto Civil já realizado nos EUA até hoje, tenha ocorrido também no plano da economia: o esforço de coordenação de milhares de pessoas, ligadas a centenas de empresas, em direção a um objetivo único, no final da década, ou seja, a gestão do projeto. Neste esforço de coordenação de mais de 400.000 pessoas, foram empregadas ferramentas de gestão de projetos que eram recentes à época e cuja aplicação era possível pelo surgimento dos primeiros computadores. Como exemplo das técnicas, podemos citar o PERT (Program Evaluation and Review Technique) e o CPM (Critical Path Method).
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CONTRIBUIÇÃO DA MISSÃO – NOVAS TECNOLOGIAS
O projeto permitiu aos EUA manterem sua hegemonia geopolítica sobre o mundo, algo que ocorria desde o final da segunda-guerra mundial e trouxe benefícios tangíveis (tecnologias que geraram produtos novos) e intangíveis (conhecimento e patentes em diversas áreas) que permitiram também aos EUA permanecerem como epicentro técnico, econômico e financeiro por muitas décadas, talvez até os dias atuais. Como se sabe, a outra única superpotência existente no pós-guerra foi a URSS, que se dissolveu a partir de 1989, em parte pela pressão de seu enorme orçamento militar, necessário para manter o equilíbrio de forças com os EUA e a OTAN, incluindo aqui o campo espacial.
No entanto, há outros aspectos a se considerar. Uma placa deixada sobre a superfície da Lua pela Apollo 11 dizia: “viemos em paz, representando todos os seres humanos”. De fato, muitos dos benefícios decorrentes da tecnologia conquistada durante essa corrida de uma década foram responsáveis pela constante melhoria de qualidade de vida e longevidade no planeta Terra.
Diariamente no mundo são feitos milhares de diagnósticos em máquinas de imagens digitais, cuja tecnologia inicial foi desenvolvida nessa época. No Brasil, por exemplo, são comuns as máquinas de medição de densidade óssea da General Electric denominadas “Lunar Prodigy ®”.
Entre outras tecnologias que ganharam forte ou nasceram completamente dentro do programa Apollo, e também dos programas Mercury e Gemini que o precederam e correram em paralelo até certo ponto, foram: os circuitos integrados; os computadores (o primeiro computador digital portátil e de alta confiabilidade foi desenvolvido pelo MIT para o programa Apollo, a fim de permitir o pouso do Módulo Lunar. O contrato de desenvolvimento foi o primeiro concedido pela NASA após o começo do programa, apenas algumas semanas após o discurso de Kennedy); materiais e tecidos avançados decorrentes das naves, seus motores e dos trajes dos astronautas; painéis solares; tecnologias de depuração de água; célula de hidrogênio; baterias eficientes; o relógio a quartzo e outras.
A primeira questão que deve ser mencionada é que o homem pôde conhecer de perto quão inóspito seu Satélite natural realmente é. Diversas sondas haviam fotografado a Lua e a observado em comprimentos de onda diferentes da luz visível, porém, a Apollo 11 foi a primeira missão a retornar com amostras para estudo. Sua poeira fina combinada com a falta de gravidade trouxe diversos problemas inesperados para os astronautas e riscos para os equipamentos.
A corrida espacial e a chegada à Lua não resultaram, até o momento, no estabelecimento de uma base Lunar para exploração de recursos de qualquer tipo naquele planeta. Os fatos reforçam que os ganhos estão no esforço, na aprendizagem trazida pelo caminho, não necessariamente na conquista do destino.
Do ponto de vista poético, muitas pessoas (e, pelo menos uma letra de música) dizem que a ida à Lua destruiu a imagem de beleza platônica que tínhamos do nosso satélite, cortejado pelo ser humano, de forma registrada, há milênios.
Do ponto de vista filosófico, a Apollo 8 (a primeira a dar a volta na Lua e retornar à Terra sem pousar, abrindo caminho para a Apollo 11 realizar o primeiro pouso) foi um grande marco. Seus astronautas ficaram absolutamente impressionados ao perceber que todo o Planeta Terra, com seus mais de 3 bilhões de habitantes à época, podia caber inteiramente atrás de um polegar, quando vista pela escotilha da nave. Foi uma incrível lição de humildade para o ser humano.
A Apollo 8 contornou a Lua em 24 de dezembro de 1968 e, ao ver o primeiro nascer da Terra através do horizonte da Lua, sua tripulação, Frank Borman, Jim Lovell, and Bill Anders, brindou um em cada 4 seres humanos com uma transmissão de imagem e voz inesquecível, narrando a passagem bíblica do Gênesis.
Para conhecer o ponto de vista de um astronauta sobre as transformações trazidas à vida de um ser humano em função da viagem à Lua, veja o excelente livro do astronauta Eugene Cernan, da Apollo 17: The Last Man on the Moon (St. Martin´s Press, 1999).
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