Leonardo Fantinati, aluno de Design da Mauá, estava no começo da terceira série do curso quando resolveu participar do programa Ciência sem Fronteiras. No último dia de agosto de 2013 ele embarcou para Dundee, na Escócia, para fazer o seu intercâmbio na University of Dundee, instituição com grande tradição e prestígio no Reino Unido e que foi fundada em 1881.
Enfrentando o frio e uma extensa jornada de trabalhos e artigos acadêmicos, Leonardo mostra-se apaixonado pela área que escolheu e feliz pelas experiências que esse intercâmbio está oferecendo.
Confira a entrevista que fizemos com ele!
1 – Por que você escolheu Design?
Acabei escolhendo a área de Design por permitir uma gama de atuação profissional, tanto em setores da indústria como na área acadêmica, sendo possível a criação, desenvolvimento e melhoria de produtos e serviços, além de permitir o estudo tanto de matérias na área de humanas, quanto matérias tecnológicas, o que é bem interessante.
2 – Quando surgiu a vontade de fazer um intercâmbio? Por que escolheu como destino o Reino Unido?
A escolha do Reino Unido como destino para a realização do intercâmbio pelo Programa Ciência sem Fronteiras deu-se pelos seguintes motivos: primeiramente, o Reino Unido é, por excelência, um dos principais campos de Indústria Criativa no Mundo, contando com inúmeras escolas de renome internacional e geradora de nomes conhecidos como Alec Issigonis (criador do MiniCooper) Vivienne Westwood (influente designer, tendo seu trabalho refletido no movimento Punk da década 1970) e Giles Gilbert Scott (criador das tradicionais e famosas cabines telefônicas vermelhas). Sua rica cultura e legado, bem como a reputação acadêmica foram os motivos que me levaram a escolher o Reino Unido, e Harry Potter, claro, mas vamos deixar isso para outra ocasião! rs
3 – Quando você embarcou, qual foi a sensação de estar indo para uma experiência como um intercâmbio?
A sensação de partir e saber que você realizará uma das maiores e melhores experiências de sua vida é indescritível. Ao mesmo tempo em que você se sente desconfortável por abandonar sua família, amigos e locais de vivência por algo ‘desconhecido’ e inteiramente novo, também é libertador, já que você se encontra por conta própria em uma cultura totalmente diferente e com base em costumes que podem ser completamente novos para você. Em outras palavras, você aprende a se reinventar, aprendendo a ser tolerante aos mais diversos tipos de pessoas e situações que encontrar, tanto academicamente como pessoalmente.
4 – Ao chegar no Reino Unido, qual foi a sua primeira impressão? Aí é muito diferente do Brasil?
Minha primeira reação foi em relação ao sotaque escocês da população, o famoso scottish accent; fora isso, a cidade de Edimburgo e a paisagem escocesa em geral são estonteantes. A população escocesa tem muito orgulho e preserva sua tradição. Uma das diferenças que sentimos ao chegar aqui é em relação ao clima, sempre ameno e muitas vezes com neblina. Temperaturas abaixo de 10ºC são comuns e, ocasionalmente, há chuvas passageiras e ventos fortes. Cidades como Edimburgo possuem inúmeros sacos de areia espalhados pela cidade para evitar que placas de transito, árvores pequenas e até mesmo itens fixados no chão sejam arrastados pelo vento.
Em relação à gastronomia, percebo que os escoceses tem grande predileção por comidas fortes e até mesmo gordurosas (não os culpo, devido ao clima), o que pode te deixar desconfortável quando não acostumado a esse tipo de comida.
Não há do que reclamar sobre a infraestrutura, pois o transporte público é pontual, polícia prestativa e serviço de saúde extremamente humanizado e atencioso. A forma como você é atendido nesses locais é um espetáculo em termos de eficiência e respeito.
5 – Durante o período em que está no Reino Unido, você está hospedado onde?
Estou hospedado em acomodação da própria universidade. Os estudantes moram em flats universitários com quartos e banheiros individuais e cozinha comunitária. Moro atualmente com dois estudantes de medicina brasileiros, um do Espírito Santo e outra proveniente de Santo André (mundo pequeno, não?), além de um búlgaro e duas estudantes do Chipre.
6 – Como é o seu dia a dia como universitário do Reino Unido?
A vida no Reino Unido é bem flexível em termos de horas de estudos e aulas a serem cursadas. A vida em um campus universitário precisa ser bem dosada em relação à vida acadêmica e pessoal, já que festas e comemorações ocorrem a toda hora. Fora isso, a participação em associações e clubes de esportes são comuns, uma forma de socializarmos e conhecermos diferentes pessoas. Nossa biblioteca é aberta normalmente até às 2h30 da manhã. Com a chegada do Easter Break (1.º a 21 de abril), ela passa a funcionar 24 horas por dia, atendendo à demanda de alunos que se preparam para os testes e avaliações finais.
7 – Como é a universidade em que estuda? O ensino em Design é diferente com relação ao da Mauá?
É importante ter em mente que a vida universitária no Reino Unido é completamente diferente da universitária no Brasil, uma vez que os professores e tutores daqui esperam que o aluno tenha a capacidade de montar e administrar suas atividades acadêmicas. O aluno é inteiramente responsável pelas aulas que assiste e pelo conteúdo que aprende, montando sua própria grade curricular. O estudante, além de montar sua própria grade com horários, precisa atender a uma série de aulas, seminários, workshops e tutoriais em grupo que o módulo pode demandar, além de apresentação de conteúdo avaliativo.
Aulas não ocorrem todos os dias da semana, apenas em dias pré-estabelecidos e por poucas horas, para alinhamento de pensamentos e discussão do andamento de seu projeto com o tutor responsável. Ademais, todo o projeto deve ser desenvolvido e pesquisado por conta própria em oficinas e ateliês da instituição fora do horário dessas aulas.
O sistema avaliativo considera apenas o desenvolvimento de seu projeto levando-se em conta se você aplicou ou deixou de aplicar o conteúdo ensinado. Somos estimulados a trabalhar em oficinas e ateliês ao em vez de assistir aulas teóricas. Aqui, a função tem mais importância do que a forma.
Contudo, os alunos muitas vezes carecem de conteúdo teórico, como conhecimentos em Modelagem 3D e softwares gráficos, como Photoshop e Illustrator.
8 – Em relação a sua área de Design, quais são os conhecimentos adquiridos até agora durante o intercâmbio? Quais são as disciplinas que está cursando?
O maior conhecimento adquirido em Design até o momento é o trabalho e o manuseio com diversos tipos de materiais e métodos construtivos, tanto em oficinas como em ateliês, testando possiblidades, formas e estética, criando um conjunto harmonioso resultado tanto de técnica como de horas de estudos e tentativas muitas vezes frustradas.
O ensino de Design é voltado ao estudo do usuário, não apenas como um consumidor em potencial de seu produto, mas sim como um ser humano com gostos, desejos e particularidades, considerando-se a realização de pesquisas etnográficas especificas, podendo-se obter insights maravilhosos em projetos.
Por semestre, todo o estudo acadêmico é direcionado em dois módulos principais. O curso de Design de Produto encontra-se na categoria BSc (Bachelor of Science), dotando o aluno de conhecimentos técnicos específicos como programação e eletrônica. Durante o primeiro semestre da terceira série, tive como módulos ‘Interaction Design, Physical Digital Products” e ‘Textile Futures’. E para o segundo semestre, os módulos ‘Design Products’ e ‘Communication Futures’ foram oferecidos aos alunos.
9 – Do que mais você sente falta do Brasil? E quando voltar, do que mais você acha que vai sentir falta do Reino Unido?
Sinceramente, sinto muita falta da correria e estilo de vida que temos em grandes metrópoles como São Paulo. Aqui em Dundee, mesmo sendo umas das maiores cidades do país, o estilo de vida é calmo, a maioria do comércio fecha por voltas das seis da tarde. Costumamos brincar que a cidade é um eterno dia de domingo, parado. A saudade da família e até mesmo de amigos é imensa, pois por mais que conheçamos e saímos com outras pessoas, as vezes seria bom a presença de alguém mais da família, por assim dizer.
10 – De forma geral, a experiência que você está tendo vale a pena? Como você acha que essa experiência pode influenciar na sua futura carreira profissional?
Sem dúvida alguma está sendo uma das experiências mais enriquecedoras da minha vida; o simples fato de sair da zona de conforto e se reinventar dando o melhor de si em todas as situações, bem como conhecer pessoas e locais incríveis é maravilhoso.
É cansativo? Sim, a vida acadêmica requer muito de você, sendo desgastante. Já perdi muitos fins de semana realizando trabalhos e escrevendo artigos. Em compensação, momentos de lazer são extremamente incríveis e valiosos, já que viagens podem ser realizadas a cidades próximas e a locomoção no Reino Unido é extremamente prática e barata.
As experiências vivenciadas influenciarão na carreira profissional principalmente no quesito organização pessoal, networking de pessoas e como trabalhar com diversos setores da economia criativa e pessoas das mais diferentes partes do mundo, caso este que ocorre em grandes organizações multinacionais, sendo válida a experiência.
11 – Você indica o Ciência sem Fronteiras para os outros alunos da Mauá?
Indico o Ciência sem Fronteiras para todo aluno que queira expandir seus conhecimentos e horizontes, estando apto a um desafio tanto intelectual como emocional. Viver no exterior não é fácil, é preciso dar o máximo de si e se sobressair no que faz. Não espere que ninguém faça nada por você, é preciso agir e mostrar resultados.